sexta-feira, fevereiro 15, 2008

A burrice nacional

Brasileiro é burro. Brasileiros adoram falar mal de americanos. O governo Bush vai chegar ao fim, os brasileiros estão interessados no assunto. Americanos são “idiotas”, “não sabem nada”. O Bush é “burro”, “o demônio”, “a favor da guerra e contra a paz”.

Tudo muito interessante. Quando será que os brasileiros ficaram tão sábios? E quando adquiriram descaramento para degradar o presidente americano e os que nele votaram? Talvez baseado no nosso histórico. Jamais elegeríamos algum burrão como o Bush, apenas pessoas altamente capazes. Ou talvez aquele primo que mora em San Diego tenha ido até o México, comprado e mandado num pacote via USPS. Retidão moral. For Latin American market only. Designed in California. Assembled in Taiwan. Certified by Greenpeace. Best before: January 2003.

É uma boa resolver frustrações denegrindo outrem. Opa! Achamos alguém pior. Estados Unidos – mais extraordinário dos países – é o prato preferido. Se o melhor é pior do que eu, então... Vai, Brasil!

E é muito fácil fazer isso. Brasileiros gostam de dizer que os americanos não sabem nada de história, de geografia política, nada de nada... Quantos em Garanhuns sabem localizar a Alemanha num mapa? Alguém aí sabe o nome da capital do Acre? Com quais países o Brasil faz fronteira? Mas a gente sempre resolve comparar uns alunos da USP com plantadores de batata em Montana. Americanos são “todos ignorantes”.

Dennis Quaid nasceu no Texas, mora em Montana e diz: “Montana é como eu sempre quis que o Texas fosse”. Dennis Quaid é burro: se o Texas fosse como Montana o mundo andaria a cavalo. Eu nunca fui a Montana, mas Montana é como eu sempre quis que o Rio de Janeiro fosse. Aliás, Montana é perto do Canadá. O Canadá tem polícia montada, muito gelo e uma taxa de homicídio de aproximadamente 1 para 100.000 pessoas. No Brasil, é de quase 30 para 100.000. A gente começou a contar isso de forma minimamente séria em 1980. Ficamos em segundo lugar, atrás da Jamaica. Em terceiro? Estados Unidos. Vai, Brasil!

Estamos na frente também no futebol. O futebol é disputado por homens jovens. No Rio de Janeiro, em 2000, havia 205 homicídios por 100.000 homens de 15 a 24 anos. E os americanos? Eles não têm autocrítica? Talvez não. Mas nessa categoria eles ainda estão ganhando.

Ainda no Rio de Janeiro, quando apresentados a tais dados, jovens de boa família e educados em bons colégios tentam justificar: “é óbvio que a taxa no Canadá vai ser menor, afinal no Brasil tem muito mais gente”. Brasileiro é burro mesmo. Vai, Brasil!