quarta-feira, outubro 04, 2006

A guerra Brasil-Bolívia

Não aconteceu. Nada aconteceu... Nosso Vietnã...

No primeiro dia de maio, tropas bolivianas ocuparam as instalações da Petrobras. O presidente Evo Morales liderou pessoalmente a intrépida investida. Um militar sobe no alto da refinaria e hasteia o estandarte nacional e a inscrição “nacionalizada”. Eles vencem. Talvez o maior êxito militar da história da Bolívia.

Desrespeito. Fanfarronice. E agora? Ocuparam também instalações de outras empresas estrangeiras, claro. Mas nosso caso é mais grave.

A Petrobras investiu, desde 1996, mais de um bilhão e meio de dólares diretamente na Bolívia. A Petrobras explorava os dois principais campos de gás e as duas maiores refinarias da Bolívia. A Petrobras era a maior empresa atuando na Bolívia. A Petrobras respondia por 15% do PIB da Bolívia. A Petrobras é controlada pelo Estado brasileiro. O bizarro interesse da União na empresa [ver: http://indiavelha.blogspot.com/2006/10/da-petrobras.html] ajudou a Bolívia a nos fazer de palhaços.

Outro fator a instigar vingança é nossa entrada tardia no país. A Bolívia sempre negociou com a Argentina. Lá pelos anos 70, a Argentina se tornou auto-suficiente em gás – deram adeus pra Bolívia. O Brasil precisa de gás natural. O gasoduto Brasil-Bolívia só se tornou um projeto relevante na década de 90. E agora, após pouco tempo e muito dinheiro, somo chutados.

Um fator adicional digno de nota é a obrigação do exercício do imperialismo. Mas foi-se – foi-se há muito – o tempo em que o Brasil botava ordem na América Latina. Nossas investidas relativamente bem sucedidas de imperialismo local foram esquecidas. O Brasil é tão imperialista... A Bolívia zombou do Brasil.

Nosso ex-sindicalista agitador não demonstrou sua ira. A ala comunista de nossos políticos também não. Sanções comerciais? Sobretaxas? Políticos da base governista, ex-ministros, jornalistas, feirantes, professoras primárias, vendedores de cerveja... Grande parte do povo brasileiro apoiou a ação da Bolívia.

Em algum momento a Petrobras passou a ter a imagem de empresa grande minimamente eficiente e competente. Uma empresa que investe em outros países. Uma empresa como o Brasil não está acostumado. Foi demais para boa parte da população. Tal coisa não pode ser! Traição! Venderam-se pro capital estrangeiro. Talvez essa seja a opinião do nosso líder máximo. Retaliação? Nada, está tudo bem... O atual governo prova, mais uma vez, ser um total fracasso nas relações internacionais.

O Brasil poderia ter invadido a Bolívia. Derrubado o governo. O Brasil poderia ter declarado guerra. Nossa juventude deveria se alistar. Batalhas terríveis na selva amazônica. No Acre. O Acre seria o palco do confronto armado. Nosso Vietnã. As nossas bem treinadas forças armadas contra civis bolivianos.

Nosso Vietnã! Nosso Vietnã se foi. Nossos filhos de classe média lutando na selva do Acre. Morrendo sem saber a razão. Lutando pela nossa empresa. Lutando pelo orgulho nacional. Os terríveis trópicos; umidade, mosquitos, doenças, sangue, soro.

Evo Morales ainda tentou. Evo Morales prometeu nacionalizar todos os outros recursos naturais. Evo Morales confiscou ações. Evo Morales fez débeis declarações sobre o Acre. Evo Morales atirou palavras para todos os lados.

O Acre. A Bolívia quer o Acre? Talvez ainda possamos lutar pelo Acre. Talvez ele se torne nosso Vietnã pelos seus próprios meios. Borracheiros bolivianos, cocaleiros bolivianos, índios bolivianos, guerrilheiros bolivianos... Eles contra os nossos filhos de classe média. Na selva, no calor, na água; cobras, piranhas, febre, drogas.

Por enquanto, o Brasil se acovarda diante da Bolívia.

Mas ainda há esperança!